Capítulo I
Salve Deus!
Meu filho
Jaguar:
De todos os
males, o mais triste que deixamos em nossas passagens é a cicatriz de
nosso mau comportamento. Quando estamos na Terra vivemos seguros no
orgulho, principalmente no egoísmo.
Muitas vezes
sentimos necessidade de chorar, de sorrir, de amar; ou melhor, pensamos em
ser amados, mas nunca desejamos amar incondicionalmente para melhor
atrairmos ao nosso favor... Não! Pelo contrário, exigimos de alguém o que
nos convém, sem querermos oferecer nada em troca.
Salve Deus
meu filho! Vamos sentir a vida das Princesas e melhorar o nosso
comportamento a respeito do Amor.
Sim, as
crioulas Princesas em 1700 no Brasil Colônia, anunciavam o seu tempo de
evolução nas senzalas, a dor no destino cármico de um povo em
desenvolvimento.
Então, tudo
começou a vibrar quando os dois Grandes Missionários, Pai Zé Pedro e Pai
João, resolveram agir no campo vibracional de nossa missão, com este
imenso Amor ouvindo e sentindo o céu, nos poderes de Vô Agripino, que
emitia aos mesmos toda a Luz do Santo Evangelho.
Aos 14 anos
Pai Zé Pedro e Pai João, que regulavam em idade, vieram no mais triste
quadro em um navio negreiro para o Brasil. Eram duas personalidades com
idéias transcendentais traçadas do céu...
Então estes
dois Espíritos levaram em frente a sua obra; se prepararam nos Planos
Espirituais e vieram para a Terra cumprir a sua missão, que seria em nossa
última orientação a nova estrada do Jaguar na Linha do Amanhecer.
Vendidos por
navios negreiros no Brasil, por Deus se encontraram pela força do seu
compromisso no sul da Bahia, onde a forte e verdadeira mensagem os
impulsionava. Então, juntos desenvolveram as suas Faculdades Mediúnicas. O
Senhor de Pai Zé Pedro era um homem muito bondoso, que ouvia o Grande
Africano e amava as suas palavras, chegando a se converter e comprou
também Pai João, deixando-os fazer na senzala o que lhes aprouvesse.
E tudo
começou assim:
- Eram seis
fazendas reunidas, onde Jurema e Juremá as gêmeas, eram muito queridas por
toda aquela redondeza. Sua graça e beleza demonstravam “Herança
Transcendental” de Altezas. “SIM, O HOMEM NÃO SE PERDE, SE REENCONTRA”.
Então, a grandeza dos Missionários se fazia projetar por toda aquela
região. Toda redondeza se juntava ali em busca da caridade. Ninguém
entendia porque naquela Era tão crua de senhores tão arrogantes, pudessem
eles admitir tanta liberdade. Pai João pregava a Doutrina do Amor,
aliviando o chicote dos senhores. Pai Zé Pedro tocava os tambores para
alertar o seu povo em outras fazendas vizinhas de Iracema, Jandaia, Janara
e Iramar, contando também com Janaína, pequena Sinhazinha que muito amava
os Nagôs, segundo se falava naquela Era. Eram jovens com apenas 18 anos,
que sofriam as incompreensões de suas Sinhazinhas, as perseguições e
seduções dos seus sinhozinhos. Era uma desdita naquele tempo o que sofriam
essas Escravas Missionárias, porém, na senzala de Pai Zé Pedro tudo ia
muito bem, vinha gente de longe e as curas se realizavam com tanto Amor, a
ponto de se propagar o Africanismo com a sua presença.
Era o dia de Jurema e Juremá, a
Lua surgia no céu prateada, os tambores ressoavam. Jurema em pé na soleira
da sua Senzala vibrava cheia de Amor, esperando Juremá e sua mãe. De
repente um crioulo que também fazia parte do Corpo Mediúnico, disse
tremendo de dor: - Oh Jurema tua mãe não irá conosco. Amamentou a filha da
Sinhazinha com febre e a febre passou para a nenezinha. – Cadê mamãe? –
Tua mãe Jurema, está no tronco. – Oh! Coitadinha. Oh! Meu Deus! Gritou
Jurema e segurando no portal da Senzala sentiu o seu Espírito se
transportar seguindo até as ruínas de Pompéia. Jurema em sua visão se
sentiu uma rica Princesa entre sedas e jóias. A sua irmã e também todos
aqueles crioulos da Senzala, a negra que hoje era sua mãe, ridicularizavam
uma jovem escrava, hoje a Sinhazinha da Senzala. Jurema compadecida da
jovem que até então era uma visão, se esqueceu da tragédia que na
realidade estava acontecendo. Não! Ela não via a sua mãe no tronco que era
a realidade. Via somente a jovem escrava arrastada e ridicularizada, onde
todos vaiavam chegando mesmo a machuca-la, e em meio desta alucinação
começou a gritar: - Juremá, volte minha mãe! Saiu então decidida para o
Congá. Chegando contou tudo o que se passava a Pai João e ele lhe
explicou:
- Filha não
chore, não se desespere! Eu, você, sua mãe e todos os seus irmãos vivíamos
na mais rica vida em Pompéia. Eu era Procurador, Zé Pedro era Imperador e
todo esse povão estava lá. Só Deus sabe minha Jurema os desatinos, as
tragédias que provocamos naquele Império. Fizemos a mais terrível
escravidão. Hoje filha querida, Deus nos deu esta oportunidade de pagar
todo este mal. Esta pequena Sinhazinha é o Espírito da jovem escrava de
Pompéia.
- Então Pai
João, como tudo terminou? Pai João colocando a mão em sua cabeça disse:
- Dorme
filha, dorme Jurema. Deitada com a cabeça no colo de Pai João, adormeceu
dizendo baixinho: - Oh meu Fidalgo Centurião, como pode me abandonar neste
caminho tão espinhoso! Onde vives que eu não posso te alcançar? Sim meu
Fidalgo, continue acariciando os meus cabelos que ficaram tão longos...
Nisto um grito e ela se levantou decidida – Não voltarei para minha
Senzala, vou-me embora daqui! Com muito custo Jurema conseguiu se acalmar.
Os tambores recomeçaram, mas Jurema pensativa não saiu do seu lugar. Pai
Zé Pedro iniciou os Trabalhos e veio se sentar perto dela e de Pai João.
Jurema segurou em suas pernas, depois apoiou novamente sua cabeça na perna
de Pai João que ali não sentia com coragem de se levantar. – Jurema minha
filha (disse Pai Zé Pedro) – Choras pela tua mãe? – Não Pai, choro porque
vi e perdi o meu amor AGRIPA, o meu amor. Eu o vi acariciar meus cabelos e
passando a mão na cabeça meio sem graça disse: - Oh! Paizinho Nagô, é tudo
tão diferente... – Sim filha, se acalme! Eu vou lhe mostrar onde e como se
encontraram. – Não Pai, não quero! Se ele for aquele crioulo feio do
Japuacy, não quero! – Ele não está aqui como vocês estão, todos nós
estamos, e ele não pode, não admito que seja feio como nós. Os dois deram
uma risada. Meio preocupado disse então Pai João:
- Veja no
que dá a Clarividência de uma pobre jovem. Ela voltou a dormir. Pai Zé
Pedro e Pai João vibravam preocupados. O que fazer? Leva-la para a
Cachoeira do Jaguar? Deus Todo Poderoso, só Ele poderá traçar este
destino... E ali ficaram esperando a jovem despertar, para decidir o seu
destino que tanto se agravara.
Sim meu
filho Jaguar, na próxima semana Jurema já estará despertada, então
saberemos do destino feliz desta tribo e com cuidado, vamos nos encontrar
como personagens desta história, que até então é um pequeno roteiro.
A Mãe em
Cristo,
Tia Neiva.
Vale do
Amanhecer, 08 de dezembro de 1979.
Capítulo II
Salve Deus!
Meu filho
Jaguar:
Deus de
fato, toma cedo ou tarde o partido dos que se dizem inocentes. Porque o
Cristianismo surgiu por canais piedosos numa Era difícil. A Alma e o
Perispírito são sempre os mesmos e por esta força, se opera pelo
compromisso ao Etéreo e se desenvolvem na vontade de Deus.
Sim, Jurema
dormia. Os escravos não sabiam sair da Senzala e o dia começava a raiar.
Pai Zé Pedro pediu a Pai João que a deixasse sob seus cuidados, que ele
determinaria outros para zelar da pequena Jurema. Pai João era escravo
recente naquela Senzala.
O Feitor
chegando inesperadamente à soleira gritou e todos tomaram um rumo, exceto
Pai Zé Pedro que era protegido do Sinhozinho. – Quem é essa crioula Zé
Pedro? – É Jurema, que desde ontem não quer se levantar. Está sofrendo
pela mãe que está no tronco. – O quê? (exclamou o Feitor) – Quem já viu
uma crioula com um mimo destes? Mimo é para Sinhazinha. Vou levanta-la
agora mesmo com este chicote. E marchando para a cama de Jurema, fez
menção de levantar o chicote quando se ouviu o grito de Pai Zé Pedro:
- Se
arremessar eu o mato! E o seu grito foi tão grande que se fez ouvir em
toda redondeza, enfurecendo ainda mais o Feitor que arremessava o chicote
de qualquer jeito, blasfemando horrores e ameaçando contar ao Sinhozinho
de Jurema.
- Não!
(gritou Pai Zé Pedro) – Não fará! Os Ferreiras são muito malvados, não
fará! Ouviram a risada sarcástica do Feitor. Então não se sabe como,
centenas de negros apareceram intimidando o Feitor apenas com suas
presenças; Nagôs que já tinham ganho sua alforria pela velhice e pela
doença. O Feitor que agia escondido do Sinhozinho saiu dali calado e foi
avisar sobre Jurema. Foi um reboliço. O Senhor de Pai Zé Pedro mandou
chamá-lo e pediu notícias do que estava acontecendo. Pai Zé Pedro disse
que havia sido por malcriação da pequena crioula.
- O que
devemos fazer? Enquanto falava, o Senhor de Jurema já estava na Senzala e
como um raio já tinha Jurema desmaiada em seus braços, espraguejando de
raiva. – Tanto a mãe como as filhas são feras, são irresponsáveis, são
negras malvadas, imundas! Estes Nagôs... não tenho palavras para suas
blasfêmias.
De repente
ouviu-se um estampido na serra e todos correram para olhar ou chegar mais
perto, quando todos gritavam: - Afastem-se, afastem-se! Juntem as armas,
atirem! Não deixem que eles desçam até aqui!
Sim. Todos
corriam abandonando a fazenda, menos Pai Zé Pedro e Pai João que correram
para proteger os seus Senhores da Casa Grande.
Era
horrível. Trapos de negros revoltados pela escravidão. Arrebentavam tudo
por onde passavam, matavam as crianças, levavam o que podiam; inclusive
animais, etc. Em meio daquele pânico os negros chegaram e Pai Zé Pedro na
soleira, gritou em voz alta:
- Parem,
parem!
Um silêncio
muito grande se fez ouvir. Os negros estacaram e ficaram como que
petrificados.
- Sigam seus
destinos, levem algumas leitoas e vão-se embora.
- Tem alguém
no tronco? (perguntaram) – Não, aqui não encontrarão nem tronco. O meu
Senhor é o meu filho (continuou Pai Zé Pedro). Nisto Pai João saiu de trás
de uma árvore muito grande que tinha na frente da Casa Grande, e um
crioulo em cima de um cavalo deu um tiro ferindo seu ombro. Jurema já
havia se libertado do seu Senhor, pois o mesmo ao ver os negros jogou-a no
chão e saiu correndo. Jurema ao se libertar correu para socorrer Pai João.
- Queremos o
Senhor branco! (gritavam os negros). Pai João com ternura disse: - Chega!
Chega, Deus pode castigar! O ódio é amigo da fome. Voltem para seus donos,
as onças vão lhes comer nestas matas! Deixem de ódio, vamos, desçam... eu
não tenho medo de vocês! (dizia Pai João morrendo de dor).
- Sim, vamos
descer, disse um velho africano e num pulo já estavam juntos de Pai Zé
Pedro. Se sentaram no terreiro como se quisessem ouvir o que ele queria
dizer. Pai Zé Pedro começou a falar e perguntar a razão de suas fugas, o
porquê de estarem fugindo. Eles contaram então a sua história.
- Éramos
trinta, entre homens, mulheres e crianças. O nosso Sinhozinho entregou-nos
pro Feitor e todo dia morria nego de apanhar, então resolvemos sair
matando até encontrarmos sossego.
- De onde
vocês vêm? (perguntou Pai Zé Pedro) – Viemos da Fazenda Esperança, no
Engenho Velho. – Como? O Engenho Velho fica muito longe daqui. Meu Deus!
(exclamou Pai Zé Pedro). Os negros como se estivessem enfeitiçados
disseram: - Vamos ficar aqui, se o senhor deixar. Obedeceremos e não
aborreceremos ninguém. – Oh! Meu Deus! (gemeu Pai Zé Pedro) Já temos
muitos negros. Nisso de lá gritou uma crioula marcando seus trinta anos:
Eu sei tecer e fia, desde que me dê algodão. Desceram mais ou menos umas
oito crioulas, entre 18 e 35 anos e negros também nesta mesma idade.
- Chame o
Senhor, se adiantou o tal Jerônimo, que parecia dominar a tropa.
Nisto, o
Senhor sai na varanda e os negros se ajoelharam no chão pedindo perdão
como crianças. Eram Almas em busca de Luz, mariposas encandeadas pela Luz.
Desta vez foi diferente, os negros é quem decidiram a situação. Foram se
acomodando na Senzala, deixando Pai Zé Pedro preocupado.
Foi fazer
uma vidência daquele quadro e ali cochilou entrando em transe. Viu todo
aquele grupo de velhos e tradicionais Centuriões da antiga e já distante
Roma. Viu também Pai Seta Branca que lhe disse: - Calma, calma José Pedro.
Estes Centuriões que hoje são negros estão sob sua tutela. Foram seus
algozes e entre eles está também Messalina, Policena, Emeritiana hoje na
figura de Zefa. Salve Deus, José Pedro! Amor, Tolerância e Humildade! E
assim desapareceu. Pai Zé Pedro despertou com o barulho deles. Sim, e
João? O que vai pensar? Como irá entender isso? Oh! Meu Deus! Como me
libertarei? Nisso Jurema vem correndo ao seu encontro. – Pai Zé Pedro, Pai
João! Eu vi um Índio muito lindo que me falou sobre esses negros! Eles são
nossos e vieram para nos salvar do meu Sinhozinho. Pai João deu uma risada
e disse: - Salve Deus! Eu não o vi, porém senti tudo que passou. Jurema!
Tu és minha filha! Eu e a sua mãe somos dois amores. Os três se abraçaram
quando se ouviu a voz do Sinhozinho dono da fazenda.
- Eu quero
também me confraternizar neste abraço. Zé Pedro, você salvou as nossas
vidas. E virando para Jurema disse: - Vou comprar a tua mãe e tua irmã, a
Juremá. Os quatro pularam de alegria com as cabeças juntas e também em um
só coração. Depois, como se despertassem daquela felicidade disseram: -
Hoje faremos a maior festa no Congá. Suas atenções se voltaram para os
velhos Jaguares, negros Centuriões que estavam batendo os pés e palmas
cantando uma linguagem Nagô.
- Oh! Meu
Deus! (disse Pai Zé Pedro a Pai João) – Emeritiana está ali e Antera
também! O que será de nós João?
Respondeu-lhe então Pai João com calma, segurando no ombro ferido: - Onde
está o Amor, onde está a compreensão!
Sim, à noite
foi um grande preparativo para a festa no Congá. Os tambores começavam a
tocar, os chegantes pareciam tão disciplinados como os outros. De repente,
ouviu-se um grito. Era Iramar que acabava de chegar esbaforida. O Povo da
Fazenda dos Ferreiras estava cercando a Fazenda e iam levar Jurema. Foi
pânico. Ninguém se entendia, até que Pai Zé Pedro novamente comandou todo
o povo que lhe obedeceu. Salve Deus! Porém, todo o povo ficou em
suspense... Foi horrível.
Na semana
vindoura saberemos o resto. Salve Deus, meu filho Jaguar! Procure sempre
se encontrar nesta história, nestes personagens. Que a compreensão esteja
contigo para que a felicidade possa te alcançar.
É o que te deseja a Mãe em
Cristo
Tia Neiva
Vale do
Amanhecer, 15 de dezembro de 1979.
Capítulo III
Salve Deus!
Meu filho
Jaguar:
Não estamos
preocupados com os velhos documentos das velhas escrituras, porém estamos
sim, desejosos de saber onde os nossos antepassados encontraram tanta
força e tanta coragem para chegar até aqui. Sim meus filhos, o Missionário
tem, graças a Deus, a sua energia e toda a harmonia nos Três Reinos de sua
Natureza. Muitas vezes contando, até pensamos ser irreal o que nos dizem
sobre os escravos e seus Missionários.
Vejam
filhos, estavam em festa, quando alguém anunciou que os Ferreiras já
haviam cercado o Conga e queriam Jurema a todo custo. Pai Zé Pedro, mais
evoluído do que Pai João, foi tentando segurar o povo dentro do Congá e
qual não foi sua surpresa, os crioulos novatos já haviam saído de dentro
de casa e como loucos açoitavam os Ferreiras, fazendo-se ouvir pragas,
ameaças e gemidos! O Feitor que estava do lado dos Ferreiras, sentindo que
estava perdendo gritou:
- Sou o
Feitor desta Fazenda. Estes Nagôs imundos estão me assassinando. Socorro!
Só se ouvia
o urro do Feitor, pois na escuridão daquela noite, fora atingido na coluna
ficando inerte no chão, gritando como um louco. Pai Zé Pedro foi até o
terreiro onde estava a briga e logo viu que o Feitor estava aleijado para
sempre.
- Oh meu
Deus! (gritou Pai Zé Pedro) Como poderemos assumir tal dívida com este
pobre irmão? Nisto, alguém que ouvia gritou:
- Eu acho
muito bom que ele nunca mais caminhe, para não chicotear os outros.
- Meu Deus,
meu Deus! (dizia Pai Zé Pedro andando de um lado para outro) Oh meu Deus!
Este pobre homem que não vai nunca mais andar... Caminhando, deparou com
um outro triste quadro. Efigênia, uma jovem negra estava ali também com o
crânio aberto de pancadas. Era filha de Júlia, uma paralítica. Zé Pedro
não resistiu e foi buscar o seu Sinhozinho. Sim, nenhum dos Ferreira havia
morrido e quis a vontade de Deus, nem mesmo ferido. Foi então que um dos
quarenta que ainda não havia se manifestado, deu um urro e se manifestou
dizendo: - Salve Deus!
O sol já
começava a esquentar seus raios, então o Nagô Pai Jerônimo disse:
- Levanta
acampamento, leva Jurema e Juremá. Escolhe o teu povo e segue rumo à
Cachoeira do Jaguar, que desemboca nas águas grandes do mar. Nós, os
Nagôs, ficamos. Vamos buscar a desditosa mãe destas gêmeas (disse
apontando para Jurema e Juremá).
- Não! Eu
não permitirei (gritou Pai Zé Pedro).
- Como?
(disse Pai Jerônimo). Como se atreve a duvidar de teu irmão? Vão embora
que eu a levo. Se demorarem terão mais mortes. Vamos, vamos logo. E
desincorporou. Salve Deus!
Pai Zé Pedro
e Pai João não esperaram mais. Não se sabe como, juntaram suas coisas
ajudados pelo Sinhozinho e partiram dali. Só no caminho notaram que não
faltava ninguém e, inclusive o Feitor lá estava, numa cama de varas. O
Sinhozinho e a Sinhazinha despediram-se com amor. Quando já iam longe
ouviu-se um forte estampido. Era um tiro de cravinote.
Os negros do
terreiro, que já estavam de volta e o Sinhozinho com sua família, com a
ajuda dos escravos que ficaram, enterraram os mortos e seguiram para a
cidade onde moravam seus pais. Enquanto as crioulas contavam 108, faltando
Jerônimo que ninguém sabia do paradeiro. Já era noite quando chegaram à
Cachoeira do Jaguar. A Lua Cheia clareava as matas e o mar, as palmeiras
balançando suas folhas como uma prece. Pai Zé Pedro sentando em uma pedra
descortinava todo o quadro por onde teria que passar com aquela gente.
Pai João
chegou e os dois começaram a fazer os seus projetos.
- Sim,
(diziam) tudo pela condenação da matéria. A Terra... a Terra, (disse Pai
João) tão lindo o mar, no entanto a Terra é o que nos pertence, por ser a
parte sólida deste Planeta. Porém, o que me conforta é que as Forças
Cósmicas continuam em atividade, porque neste Universo não há inércia,
tudo se movimenta em nosso favor pela Bênção de Deus. A sua atividade é
essencialmente produtora desta nossa matéria orgânica e inorgânica, logo
nos dará forças, graças a Deus!
Pai Zé Pedro
que só ouvia, disse sorrindo:
- Onde
aprendeste tanto? Isto não são palavras de Nagô!
- Estou
consolando a mim mesmo, Pedro.
- Porquê não
pede ao Mestre Agripino? Ele é que me consola (Foi quando os dois
começaram a receber energia).
- Sim Zé
Pedro, a atividade do homem é essencialmente produtora e as forças
essencialmente ativas. Como já disse, cria na matéria orgânica este
arsenal de forças, portanto temos que organizar um ritual, uma jornada,
vestimentas que mudem a sintonia dos crioulos.
- Sim Zé
Pedro, vamos erguer esta arma para o Céu.
- Sim João,
é realmente um arsenal. Oh meu Deus!
E olhando a
paisagem do lugar disseram:
- Faremos
uma jornada em frente à Cachoeira, enfeitaremos as crioulas e faremos
lindas Princesas dos Castelos Encantados que já ouvi contar.
- E eu que
pensei que você meu irmão, era um simples escravo!
- Sim (disse
Pai João), tenho Agripino que vem nos meus sonhos e me conta tudo.
- Eu também
tenho um Índio que me falava quando eu ia entrar no chicote do Feitor.
Riram, riram muito, de repente lembram do Feitor.
- Meu Deus!
O que vamos fazer com este pobre homem? De repente ouviram um grito. Era
Jerônimo gritando, como se estivesse perseguido.
- Oh meu
Deus! A nossa vida não tem fim. E os dois continuaram a sorrir.
- Sim, e o
ritual? (perguntou um).
- Faremos!
(disse o outro) Precisamos de energia para obter as Curas Desobsessivas.
Salve Deus! Faremos tudo que Deus nos aprouver.
Os gritos
continuavam e todos já vinham ao encontro dos dois.
Salve Deus!
Meu filho Jaguar. Domingo vindouro lhe darei a continuação.
Com carinho,
A Mãe em
Cristo,
Tia Neiva
Capítulo IV
Salve Deus!
Meu filho
Jaguar!
O dever é a
obrigação moral da criatura para consigo mesma em primeiro lugar, em
segundo para com os outros. O dever é a lei da vida. Meu filho, a virtude
é o mais alto grau onde o homem encontra sua liberdade espiritual. A
virtude é a forma que sobrevive e explica a natureza do homem, porque tudo
está contido em Deus! Sempre estamos a percorrer as ruínas de nossas
vítimas, das suas vidas, sem preocupação exata de nossa missão. Hoje meu
filho, estamos tentando acreditar no que nos dizem os nossos antepassados.
Sim meus
filhos, todos já estavam no Congá da Cachoeira do Jaguar. Foi triste
aquela noite. Jerônimo havia chegado aos gritos, trouxera a mãe das gêmeas
que estava muito mal. Emoções, choros, tristeza e também risos. O fato é
que não se sabe como dormiram. Tão logo o dia clareou, todos já estavam
tirando palmas, fazendo lindas choupanas. No prazo de oito dias já existia
um lindo povoado de palha e tudo na melhor sintonia possível. Foi então o
dia do grande Conga. Todos estavam realmente desejosos. Sim, o menor dos
Seres vibrava na presença daquele lindo altar formado de palmas. Pai Zé
Pedro e Pai João estavam muito felizes aquela noite, pois haviam se
encontrado com Henrique de Enoque e com ele se identificaram. Henrique era
um dos Nagôs. Juntos entraram na choupana de Jurema que estava ao lado de
sua mãe moribunda. Jurema ao sentir os três, ergueu a cabeça e disse como
se estivesse dormindo:
- Salve
Deus! Seja bem vindo nesta terra meu estimado Procurador! É árdua esta
missão que escolheste de Nagô. Assim assumistes a maior das missões. Oh!
(gritou) Como me orgulho de ti filho! Me orgulho de ti, como em poucos
tenho o mais puro exemplo...
Nisto abriu
os olhos e meio decepcionada voltou para sua mãe e todos correram para
ela.
- Oh filha!
Não sabes o bem que nos fez.
Ela começou
a chorar dizendo: - Sim, eu sei. Eu ouvi tudo que disse, apenas não pude
me impedir de dizer (Zé Pedro olhou para João).
- Como?
Segundo Vô Agripino ela passou por um processo de incorporação consciente.
– E quem tomou o seu corpo?
- Os Anjos e
Santos que prometeram nos proteger nesta jornada. Jurema será a Voz Direta
do Céu (respondeu João).
- Sim,
graças a Deus! Então, comentaram tudo o que havia se passado. Zé Pedro
reconhecera Henrique o seu velho Procurador Romano. Sim, Zé Pedro como
Imperador o havia mandado a Pompéia e agora o reconhecera, porém não
estivera tão seguro até que Jurema fizesse aquela grande afirmação. Os
dois voltaram a se encontrar e no mesmo primitivo lugar. Pai João
filosofando disse:
- Todos
somos livres neste mundão de meu Deus! Até mesmo para acreditar, desejar,
escolher, fazer e obter; mas, todos somos também constrangidos a penetrar
nos resultados de nossas próprias obras. Não existe direito sem obrigação
e nem equilíbrio sem consciência.
- Neste caso
a consciência de Jurema é equilíbrio?
- Graças a
Deus, por isso me faz tanto bem, João.
- Sim João,
e a mãe de Jurema irá morrer?
- Não Zé
Pedro. A doença é apenas o conflito do seu estado externo, falta de
energia física. Não precisamos nos preocupar. – Aceito sua afirmação João.
Fico feliz e seguro de saber de seus sonhos com Vô Agripino. Seria tão bom
se eu também pudesse sonhar com ele, porém devemos agradecer a Deus de
termos você.
- Sim Zé
Pedro, porém ele ralha muito comigo!
- Sim João,
eu também tenho um Índio. Eu já lhe disse, não?
- É verdade
Zé Pedro, é verdade. E sabes mais Zé Pedro? Fui informado que o Vô
Agripino é Pai Espiritual deste Índio.
- João,
espera, vamos devagar...
Nisto um
grito de alegria mudou a sintonia dos dois.
Era o
escandaloso do Tomáz que havia visto um pequeno barco trazendo a
Sinhazinha Janaína.
- Vê (disse
Zé Pedro) Jurema bem que disse ter visto uma linda loura e um crioulo
também que traziam belas mantas para as crioulas.
- Sim, vamos
Zé Pedro e cuidado! Você está fazendo muitas observações, isto é muito
perigoso. Deixe que as coisas decorram sem muita precisão de sua cabeça.
Desceram
todos e a chegante parecia que já estava sendo esperada. Tudo calmo,
desembarcou realmente com muitas mantas e pequenos terços, chamando Jurema
foi também lhe entregando a sua bagagem. Vendo Pai João e Pai Zé Pedro
perguntou se poderia viver ali com eles.
- Como?
(disse Pai João) Veio morar conosco?
- Sim (disse
a Sinhazinha). – Meu Deus, quantas complicações! (pensou Pai João).
- Meu pai é
dono de Engenho e tem grandes negócios na Europa. Minha mãe morreu e eu
sonhei que nesta Cachoeira alguém me esperava. Viemos eu e Chiquito para
nunca mais voltar. Libertei todos os negros que estavam no tronco e sei
que eles também virão. Chiquito vai descer novamente, virar o barco e
voltar a pé, depois de alardear o meu afogamento. Todos pensarão que
morri.
Neste
ínterim todas as jovens já estavam juntas dando risadas. A euforia era tão
grande que não houve sessão no Congá. Tudo ia correndo mais ou menos,
todos se conhecendo melhor. Então uma grande harmonia foi evoluindo aquela
gente. Pai Zé Pedro cada dia se evoluía no aprendizado de Pai João. Em vez
de sessão no Congá eles gostavam mais das histórias doutrinárias de Pai
João. Naquela noite, estavam todos sentados diante de uma linda fogueira
atiçada por Pai Joaquim e Mãe Dita...
Em resumo,
ali acontecia a Doutrina Secreta, Mãe das Religiões e das Filosofias, que
se reveste de aparências diversas no correr das idades, porém sua base
permanecendo imutável em toda parte. Sim, nascida simultaneamente na Índia
e no Egito, passando daí para o Ocidente com a onda das imigrações. Assim
é que por toda parte, através da sucessão dos tempos e dos rastros dos
Povos, afirma-se a existência de um Ensino Secreto que se encontra
idêntico no fundo de todas as grandes concepções religiosas ou
filosóficas. Os Sábios, os Pensadores, os Profetas dos Templos e dos
países mais diversos, nela acham a inspiração, a energia que faz
transformar e empreender as grandes coisas que aliviam as almas e
equilibram a sociedade.
Todos se
preocupavam com a fogueira, enquanto Pai João cochilando ouvia todas essas
coisas, estas lições, estes ensinos. Mal sabia Pai João, ia gravando tudo
isso no fundo de sua alma, junto com a paz, uma serenidade e uma força
moral incomparável. Todos sorriam, sem se lembrar do Feitor que repousava
inerte na última choupana. Como a união faz a força, se obtém geralmente
resultados satisfatórios sobre os encarnados. Todos estavam descontraídos
e desprevenidos, alheios aos seus pensamentos exceto Jurema, que não saia
da cabeceira de sua mãe.
E no meio
daquela noite surgiu um triste espetáculo: Jurema, com um pedaço de
madeira na mão, gritava escandalizando todo mundo como se fosse o próprio
Feitor!
- Negros
desgraçados, preguiçosos! (e se atirando em cima de todos e de olhos
fechados espraguejava contra Zé Pedro).
- Vem negro
desgraçado, vem me matar!
Pai Zé Pedro
vendo que ela poderia cair na fogueira, foi segurá-la. Qual nada! Jurema
investiu contra ele e o agrediu. Pai João foi ao encontro e os dois se
machucaram. Jurema estava sem a razão. Pai João levantou os braços e na
Força do chamado Deus Africano, gemeu como um leão dizendo:
- Oh Obatalá!
Oh Obatalá! Entrego neste instante mais esta ovelha para o teu redil!
Jurema
soltou o porrete e saiu cambaleando num pranto doloroso. Pai Zé Pedro
enxugando o sangue do rosto, acariciava-a enquanto ela lhe enchia de
perguntas.
- Não tens
raiva de mim? Não te zangastes?
- Não filha
(disse por fim). Conheço o fenômeno e tu só me fazes bem. Jurema
levantando os grandes olhos rasos d’água, emitiu a Zé Pedro toda a sua
ternura. Zé Pedro sentiu todo amor de sua vida. Os dois percorreram o
transcendente e como por ventura, Jurema viu o famoso Procurador que a
cortejava e a quem tanto amava. Então ali permaneceram sem que ninguém os
reparasse. Todos estavam empolgados no fenômeno. Pai João fez aquela
Emissão ou Elevação com toda a força dos seus sentimentos. Sentindo as
dores do fenômeno, voltou para o mesmo lugar, voltando também a ouvir Vô
Agripino.
- Salve
Deus! Viu João? Fizestes tudo tão perfeito, porque tens constantemente
livre o teu Sol Interior. Te entregastes ao Cristianismo, esquecendo-te de
ti mesmo. Sim, o ensino é como pétalas de rosa que caem em nossas mentes,
enquanto vai orvalhando os Três Reinos de nossa Natureza.
- É o Centro
Coronário que me ensinaste uma vez?
- Sim! Este
guarda as pérolas que levamos para a Vida Eterna. (E disse mais) – Não te
assustes com Zé Pedro. Não te esqueças que ele tem apenas 40 anos aí na
Terra.
Pai João
meio confuso, viu que Zé Pedro ainda falava com Jurema. Então voltou a
fazer outras perguntas ao seu Vô Agripino e este entre outros
esclarecimentos disse:
- João,
sabes quem tomou o aparelho de Jurema?
- Não meu Vô,
quem?
- O Feitor!
- O Feitor?
Como? Ele morreu?
- Não, o seu
ódio é tão grande que ele se desprende do corpo e faz o que fez.
- Meu Deus!
- Sim! E não
poderás dizer nada, guarde tudo para ti mesmo, porque esta gente não tem
capacidade de assimilar tudo isto.
- Oh meu
Obatalá! Tenho medo, e Zé Pedro?
- Sim, nem
Zé Pedro. Ele será feliz, porque saberá respeitar o seu grande e imortal
amor.
- E Japuacy?
- Japuacy?
Veja João. (Pai João deu uma grande risada...).
Sim meu
filho Jaguar, vou terminar a reforma da Sala de Costura com Rafael e
Fabrício, e não tenho como escrever mais, porém na próxima semana darei a
vocês mais uma parte.
Com carinho,
A Mãe em
Cristo,
Tia Neiva.
Capítulo V
Salve Deus!
Meus filhos
Jaguares!
Explica-se a
diferença entre a velha estrada e o novo caminho.
A velha
estrada é cheia de medo, de temor a Deus. A velha estrada foi palmilhada
por milhares de pessoas, milhares de teorias sempre escritas e nunca
praticadas. O novo caminho, entretanto foi traçado pelo suor, pela própria
energia de quem o traçou e vive a emitir com tanto amor.
Vamos sentir
o caminho do Amanhecer, sem superstições e sem as teorias dos pensadores,
pela vivência na prática, na execução desta Doutrina e seus fenômenos
sensoriais.
Vamos
senti-lo no respeito à dor alheia, no carinho aos humildes, no afeto das
ninfas, no progresso e na compreensão de nossa família.
Este é o
caminho traçado para o homem na Doutrina do Amanhecer.
Quem diria
que naquela Era distante os Enoques levassem tão alto esta filosofia, esta
Corrente.
Sim, Pai
João, o mais velho, era quem observava com mais precisão o desenrolar das
vidas nos Carmas. Suas preocupações aumentavam enquanto Pai Zé Pedro
filosofava de vez em quando.
Os dias
passavam sem qualquer anormalidade, isto é, sempre acontecendo fenômenos
que ali já eram corriqueiros. Porém, só Deus sabia como e onde chegariam.
Havia dias alegres e outros menos alegres, porém sempre em harmonia.
Até que as
forças foram se materializando e tudo começasse a ser mais verdadeiro,
mais preciso.
Pai João se
inebriava com todos aqueles fenômenos e estava sempre à espreita dos
mínimos acontecimentos. Os momentos de descanso era cochilando embaixo de
uma pequena árvore.
O pequeno
arraial estava tranqüilo quando Pai João em um dos cochilos viu um
finíssimo fio magnético entrando numa das cabanas, ao mesmo tempo que
ouviu o grito desesperado de alguém que fora atingido.
Era um
fenômeno Mediúnico, puramente Espiritual. O grito era da jovem Iracema que
rolava com uma dor na espinha, como se tivesse levado uma pancada.
Pai João
então correu e fez uma “Elevação” tirando-lhe a dor.
Ele então
começou a pensar que nada havia enxergado. Tinha certeza de ter visto
aquele fio saindo da cabana do Feitor.
Chamou então
Pai Zé Pedro e contou-lhe o que vira e os dois começaram a ter medo da
situação.
Nisto
Jurema, manifestada por um Caboclo começou a dizer:
- “Meus
filhos! Tomem cuidado, este Feitor é um instrumento feliz de evolução. O
pobre infeliz vive ainda pelas mãos caridosas de Sinhá Sabina. O fenômeno
foi visto por vosmissê João, para que tome cuidado!”.
- Como?
(perguntou Pai João).
- Ele vai
entrando em transe (respondeu o Caboclo) e sua alma ruim, odiosa, pega a
quem ele mais ama ou odeia.
- Salve
Deus! (disseram todos de uma vez).
- E eu que
pensava que somente os desencarnados atuavam...
- Sim!
(continuou o Caboclo) Vocês estão em uma jornada para desenvolvimento, até
que passe todo o Carma da escravidão.
- O homem
será feliz quando tiver a libertação? (perguntou Pai Zé Pedro).
- Não!
(continuou o Caboclo) O homem jamais se libertará.
E dizendo
isso deixou Juremá e se foi.
Todos
ficaram sem entender nada. Jurema porém entendeu e saiu correndo dali para
a cabana do Feitor, decidida a falar com ele e dizendo que iria mata-lo,
quando Pai João interferiu dizendo:
- Jurema, a
concepção de morte resulta de um entendimento completamente errado da
vida, porquê na verdade ela jamais existiu. O Espírito não morre e então o
Feitor nos atentará mil vezes mais. Matando-o ele ficará mais leve, mais
sutil.
- Todos que
se prendem pelo pensamento e se enchem de ódio, ao se verem desencarnados
no astral inferior, é evidente que voltam, sendo mais comuns as suas
furiosas crises.
- Vamos
Jurema, vamos tentar doutriná-lo antes que morra e se torne invisível aos
nossos olhos.
Chegaram na
cabana do Feitor. Ele estava esticado numa cama de vara e capim. Sabina
veio sorrindo ao encontro deles. O feitor começou a espraguejar e Pai João
a lhe fazer Doutrina, porém com medo de Jurema que o observava seriamente
com seus olhos verdes e amendoados.
Sem
perceber, disse então Pai João: - Pobre Imperador! Viestes com tão nobre
missão e, no entanto eis o que restou! Pensa Eufrásio, no que estou te
dizendo. Vou levar Jurema e voltarei.
O dia já
estava terminando quando Pai Zé Pedro e Pai João se encontraram de novo e
se entenderam. Pai Zé Pedro deslumbrado ficava repetindo: - A irradiação
dos encarnados se desprende do corpo e manifesta com a mesma leveza do
Espírito dos mortos...
Nisto se
ouviu um grito e em seguida gargalhadas; Pai Zacarias caíra na Cachoeira e
estava todo molhado, porém nada havia lhe acontecido senão o susto. Coisas
desta espécie aconteciam sempre.
Sim, mas
essa alegria durou pouco. Chegou o Feitor da Fazenda onde Juremá vivia.
Ele chegou
arrogante e já ia pegando Juremá quando Tomáz gritou: - Larga, porco
imundo, aqui é diferente! – Nem tanto (gritou o Feitor) porque você vai
morrer!
Dizendo
assim esporeou o cavalo e marchou para Tomáz. Como um relâmpago passou por
cima dele com o cavalo esmagando o seu estômago. Quando Pai Zé Pedro e Pai
João chegaram era tarde demais. Tomáz já estava morto!
Todos
gritaram fazendo um ambiente de terror naquele lugar.
O Feitor foi
fugindo desapercebido levando Juremá.
Aquela dor
era grande demais e ninguém, e ninguém se lembrou do Feitor assassino e
nem de Juremá.
A morte de
Tomáz trouxe tanta tristeza que mudou a sintonia do lugar. Os Nagôs não
cantaram mais e nas fogueiras riam raras vezes. A harmonia porém
continuava.
Começaram
então os projetos para irem buscar Juremá. Tomáz fora quase criado por Pai
Zé Pedro.
Dois Nagôs
que muito amavam Pai Zé Pedro resolveram buscar Juremá. Calados, sem que
ninguém soubesse, puseram uma “matula” na mochila e se foram sem que
ninguém soubesse.
Jurema porém
os viu na sua vidência.
Pai João por
sua vez sentiu tudo que estava se passando.
Todos porém
se fizeram de desentendidos e ninguém impediu os dois Nagôs.
Jurema não
olhava para Pai João e nem Pai Zé Pedro, pois viviam ainda o espírito de
vingança pelo seu querido Tomáz.
E realmente
Joaquim e Cassiano chegaram com Juremá.
Novamente o
rebuliço.
Juremá não
falava, perdera a voz.
Todos
queriam saber o que houvera, porém nada diziam e ninguém tinha coragem de
perguntar. Permaneciam em volta da fogueira e só ouviam o murmúrio da
Cachoeira. Ninguém tinha mesmo coragem de quebrar aquele silêncio.
De repente
Jurema deu uma risada, Janaína foi para perto dela e as duas se abraçaram,
Jurema, porém, mantendo uma atitude que não era dela, disse: - Salve Deus!
(e chamando Joaquim e Cassiano disse): - Porquê fizeram isso? Mataram o
Feitor e seu Sinhozinho! Isto não é de um filho de Deus e que está ‘a
caminho! Terá que voltar ‘a Terra e receber o Feitor como teu filho. E tu
Cassiano, terás o teu Sinhozinho também como filho!
A estas
alturas Cassiano e Joaquim já sabiam o que Jurema queria dizer.
- Me perdoe,
bom Espírito (disse Joaquim) porém aquele malvado matou nosso Tomáz em sua
covardia!
Cassiano por
sua vez perguntou ao Espírito incorporado em Jurema em Jurema se eles
poderiam continuar vivendo ali.
- Sim!
(disse o Espírito) Deus não tem pressa. Cada um daqui assumirá a sua
sentença ou sua libertação.
Juremá
enchia-se de cuidados por Jurema.
Tão logo
terminou a incorporação cada um voltou ao seu estado d’alma. Uns foram
dormir e outros ficaram ali na fogueira.
Nisso
ouviram gritos alucinantes!
Meu Deus!
Novamente o fio magnético. Novamente Iracema fora atingida pelo Feitor
Eufrásio. Tudo se repetiu com as mesmas correrias, até que Pai João
liquidou novamente o assunto com nova Elevação. Desta vez, porém, com
muito trabalho.
Mais dias
decorreram e se notou que Iracema ficava cada dia mais pálida, com ar
doente. A partir daí tudo foi de mal a pior.
Certo dia
fizeram uma vidência para saber o que deveriam fazer com a pobrezinha da
Jurema. Dela participou Vovó Cambina, que viera da Bahia para tirar o
quebranto dos filhos da Sinhá. E na sessão daquela noite decidiu seguir os
seus irmãos naquela jornada.
Vovó Cambina
da Bahia “rezou” Iracema e esta com seu “Passe Magnético” começou a
melhorar. A partir daí, na proporção em que ia se fortalecendo, ia também
adquirindo forças para repelir o magnético do Feitor.
A essas
alturas, porém, as coisas já haviam tomado um rumo muito sério. Ninguém se
lembrava mais de Tomáz. Toda a concentração agora era no Feitor Eufrásio.
Urgia faze-lo amigo antes que ele os atingisse. Isso porque Pai João
explicara que se doutrinassem o Feitor, ele deixaria de atacar com seu
magnético. A partir daí o Feitor começou a receber constantes visitas e
foi melhorando tanto, que chegou a pedir perdão muitas vezes.
Eufrásio
passou então a ser o confidente daquele povo!
Sim,
Eufrásio fora um grande Senhor, até o dia que perdera a sua fortuna e sua
família devido ao jogo. Com isso fora obrigado a aceitar o triste lugar de
Feitor naquela Fazenda de tragédia. Mais uma vez a prova de que o homem se
liberta por si mesmo...
Sim,
enquanto Pai João e Pai Zé Pedro ensinavam a sua Doutrina de Amor, o
Feitor ensinava, também, o que sabia dos mundos por onde andara.
Vovó Cambina
da Bahia também o “rezava” todos os dias.
A vida do
arraial, sem ter perdido sua harmonia, só agora, entretanto voltava ao
normal das toadas e das alegres fogueiras. Certo dia estavam todos
assentados quando ouviram um barulho no mato, como seu fosse um estouro de
boiada arrastando tudo... Eles então carregaram suas espingardas e se
entrincheiraram...
Era uma vara
de porcos selvagens que por ali passava, felizmente por fora do arraial.
Assim mesmo os Nagôs mataram mais de 20 porcos, fazendo fartura de carne.
Pai Juvêncio
e Zefa eram os únicos que tinham coragem de ir até um lugarejo por nome
Abóbora.
Certa feita
chegavam na entrada da cidadezinha, quando Pai Juvêncio viu uma mulher com
uma menina meio desacordada nos braços. Ele chamou Zefa e cochichou no seu
ouvido. Ela concordou com o que ele disse e ambos benzeram a menina, isto
é, tiraram o Espírito que estava com ela. A menina ficou boa e Tânia, sua
mãe, deu a eles algumas frutas que tinha, se desculpando por não ter mais
nada.
Juvêncio e
Zefa comeram as frutas, trataram dos assuntos que os havia trazido à
cidade e voltaram para casa. Ao chegarem, nem bem haviam pisado na soleira
da cabana, quando sentiram uma violenta dor de barriga. Suas barrigas
começaram a doer, doer tanto a ponto de chamarem Vovó Cambina da Bahia
para socorre-los.
Seria
veneno?
A desinteria
piorava e os dois apresentavam os mesmos sintomas.
Pobrezinhos,
dizia Pai João. – Resolveram tantas coisas para nós nessa viagem! Deve ser
provação, deve ser Deus testando seus corações.
Logo mais à
noite, todos estavam em torno da fogueira e pediam notícias. Súbito,
Jurema que estava ao lado de Pai Zé Pedro, levantou-se bruscamente e
apontando para os dois que estavam abaixadinhos junto à fogueira gemendo
de dor, disse:
- Eles
comeram prenda ganha pela sua caridade!
- Como?
(disse Pai João) – Ah! Sim, Pena Branca não quer que a gente ganhe nada em
troca do que faz! Sim, Vovó Agripino também já disse: - A gente só aprende
com o espinho na carne, fincando!
- É Pai
João, todos nós temos um espinho na carne!
- Oh! Meu
Deus! (gritaram todos de uma vez) – Sim! Estamos conscientes!
Nessa
altura, graças a Deus, Vovó Cambina já estava chegando com a cuia de chá.
Eles após tomaram o chá, contaram o que havia acontecido na entrada de
Abóbora.
Todos então
abraçaram os dois pela sua ação e cantaram em coro – Juvêncio e Zefa
comeram prenda da caridade que fizeram! – Sim, receberam pagamento e o
Pena Branca não gosta de presentes ou de “cobre”!
Zefa e
Juvêncio ainda tiveram uns três dias de dor na barriga.
Tudo foi
alegre e passou.
Eufrásio,
que agora era o Conselheiro do grupo, também achou a lição muito
importante. Primeiro pelas frutas, uma vez que Pena Branca não aceita
pagamento pelo seu trabalho mediúnico, e segundo pela denúncia de Jurema,
que em sua Clarividência vira o que se passara.
O pobre
casal fora lesado pelas suas mentes preguiçosas. E tudo está
Espiritualmente pronto.
Pai Zé Pedro
e Pai João se regozijavam da situação. Zé Pedro sempre perguntava: - O que
será de nós, onde iremos? O que será de nós? Não seria melhor sairmos, em
vez de esperar o Mundo aqui? Eu já não suporto mais! Oh! Meu Deus!
- Zé Pedro
(dizia Pai João) Quando o celeiro está pronto o Mestre aparece! – São
palavras de Vô Agripino!
Pai Zé
Pedro, Pai Lourenço, Pai Francisco e muitos outros dos 70 membros daquele
grupo estavam inquietos. Menos Pai João e Eufrásio o Feitor, que firmes em
Vovô Agripino, permaneciam calmos.
Certa manhã
Jurema avisou o Pai Zé Pedro que chegaria muita gente para se curar. Os
Nagôs se reuniram e se prepararam para recebe-los. Já fazia dois anos que
ali estavam.
- Lá vêm
eles, lá vêm eles!
Lá embaixo
avistava-se uma enorme fila de gente chegando.
Só se ouvia
gente correr para receber os chegantes.
Zefa e
Juvêncio reconheceram entre eles a mulher cuja menina haviam curado e
gritaram: - Jurema, Pai João, Pai Zé Pedro! São gente que vêm em busca da
caridade! (e perguntaram baixinho a Pai João): - Não tem perigo de nossa
barriga doer?
- Não!
(respondeu Pai João).
E o Povo foi
chegando e fazendo e fazendo ambiente.
Que
maravilha! Todos estavam felizes, a felicidade dos Missionários de Deus!
Tudo foi
lindo com suas Curas Desobsessivas e seu Amor, a dedicação de toda aquela
gente.
Meus filhos,
eu gostaria de contar mais desta história, porém Manezinho, o 7º Raio de
Yucatã não me deixa. Sabe porquê? Porque ele é também um personagem da
Cachoeira do Jaguar.
E você
também, meu filho, procure se encontrar nela.
Com carinho,
A Mãe em
Cristo.
Tia Neiva.
Vale do
Amanhecer-DF, 08 de março de 1980.
Capítulo VI
Salve Deus!
Meu filho
Jaguar!
As trevas da
noite nada significam para o Espírito, pois este vê através do seu
resplendor.
Sim meu
filho, declaro com toda confiança, que não está longe o dia em que a
ciência irá se colocar diante desta realidade que é a reencarnação.
Ninguém
poderá impedir o progresso. O mundo de hoje está brincando com fogo. O
tempo no espaço não se registra. Não se sabe porém os caminhos físicos. No
centro nervoso da Terra tudo é lento, tudo vibra para formar a harmonia no
centro eterno do homem. Seus rápidos contatos do etéreo-magnético é o bem
que lhes dá força. O homem mesmo na sua inconsciência, confirma o seu
penhor no eterno e junto aos seus velhos sábios retorna ao seu Sol
Interior.
Sim meu
filho, breves dias irão chegar em que o Homem Espiritualizado será sentido
pelo “PROFANO”, como uma música literária da mais alta sinfonia.
Sim meu
filho, segundo as leis e forças que governam todas as coisas que Deus
criou, o homem na totalidade, sempre procura empregar sua força mais para
impedir o desenvolvimento da Terra. Vê-se assim, como a se punir pelas
suas próprias leis. Leis, sempre para punir outros e não sabem se desviar
e continuar a punir.
Sim meu
filho, não é fácil abandonar a multidão, fixar-se em si para buscar a
verdade. E quando conseguimos encontrá-la, é mais difícil ainda permanecer
com ela. Permanecer com a Verdade quando a encontramos.
Sim meu
filho, com este Espírito de lealdade vamos encontrar o nosso Povo na
Cachoeira do Jaguar. Foi tudo muito bem aquele primeiro dia. Curas, muitas
curas que se espalharam por toda parte. De longe se viam luzes naquela
Cachoeira. Nossos Missionários estavam unidos pelos compromissos Cármicos.
Pai João
amanheceu doente. Seis horas da manhã e o céu não clareava, fazendo os
pensamentos se encontrarem. Eufrásio entoava um “bendito” da Igreja
Católica. Jurema juntou a roupa e desceu com uma enorme trouxa para a
fonte, e com ela Janaína, Jandaia e Janara. Alguns Nagôs já voltavam das
caçadas e outros seguiam para as roças. As Sinhás preparavam a feijoada e
outras ainda reavivavam o fogo da célebre fogueira.
Pai João
sentia a tristeza daquela gente e sua mente começou a voltar. Foi quando
Pai Zé Pedro chegou fazendo algumas premonições. Sim! Pai Zé Pedro previa
alguma dor devido também ao procedimento daquela gente.
Pai Zé Pedro
estava triste porque Pai João já havia contado uma certa comunicação sua
com Vô Agripino, que segundo os fenômenos habituais, a desarmonia que há
horas estava se dando no grupo, era forçada pelas vibrações dos familiares
de Janaína. Eles acabariam descobrindo o seu paradeiro. Evidente, seria
uma guerra. Perder Janaína seria um terrível descontrole para Jurema. Seus
pensamentos não chegaram a se concretizar.
Da entrada
da aldeia três cavaleiros gritavam: - Negros! Queremos paz, porém, nos
entreguem a Sinhazinha Janaína, porque o Senhor seu pai pede a cabeça de
todos vocês que roubaram sua filha.
- Ela não se
encontra aqui (disse decidida Jurema).
Janaína, que
estava de cócoras, saiu correndo e entrou na cabana de Eufrásio, que tinha
um Cravinote na sua cabeceira para se defender de bichos (onças, lobos,
etc). Vendo Janaína tremendo de medo, segurou o Cravinote e ficou ali ‘a
espreita do que desse e viesse.
Ah! Foi
horrível! Os homens desceram dos cavalos e foram direto ‘a cabana de
Eufrásio. Este, fazendo um esforço acima de suas condições físicas, vendo
o homem quase pegando Janaína, segurou a arma e atirou. Dois ficaram
caídos e o outro foi embora pela mata adentro.
Pai João
mandou que desarreassem os cavalos e os juntasse à tropa.
Todos
correram para a cabana de Eufrásio que só sabia dizer: - Oh! Pai João,
pelo amor de Deus, jamais pude pensar em tão desesperado gesto. Sim, Pai
Zé Pedro! (Eufrásio continuava a falar) Eu não podia deixar que eles
pusessem a mão nesta criaturinha...
Nisto um
urro. Reviraram o homem que estava de bruços com a boca no chão, ele ainda
estava vivo, porém, o outro estava morto. Foi horrível. Ninguém sabia como
proceder. Mas, a verdade não se pode esconder: Estava um homem morto, e o
outro ninguém sabia o seu estado de saúde. Somente quando o dia clareou é
que foram dar conta da tragédia.
Eufrásio já
estava só novamente.
Um grande
grito se fez ouvir, era Eufrásio; estava sentado na cama.
- Sim! Pai
João, Deus se compadeceu de mim, estou sentado. Oh! Pai Zé Pedro. Todos
viraram-se para Eufrásio, ficando a dor da tragédia mais amena.
Maria Conga
não parava, enquanto todos sofriam em seu pranto emocional, ela junto à
Vovó Sabina e também alguns Nagôs, já haviam cuidado do morto e do ferido,
e até já sabiam que o morto se chamava Crésio e o doente Amâncio e que
inclusive, estavam por conta própria, ninguém os havia mandado ali. Eram
os velhos reajustes da noite fatal na Senzala.
- Oh! Meu
Deus! (gritavam todos) Eufrásio vai andar... entre lágrimas, gritos e
emoções, Eufrásio dava alguns passos pelas mãos de muitas pessoas
eufóricas que chamavam aquele fenômeno de milagre.
Pai Zé Pedro
estava em conflito e foi atrás de Pai João.
- Como pode?
Matou e ficou curado! Como pode? João, um fenômeno deste?
- Cala-te Zé
Pedro! Deixe de fazer julgamento. Estes três homens não eram mandados do
pai de Janaína, e sim estavam com má intenção na pobrezinha desta virgem.
Olha Zé Pedro, já estamos aqui há mais de cinco anos! Não está lembrado
que o Sinhozinho Eric vendeu tudo que tinha e foi embora pensando que sua
filha havia morrido afogada? Houve até uma lenda que Janaína aparecia
cantando por cima das águas nas noites de lua cheia? De um ano para cá,
porém, alguém começou a desconfiar que realmente ela estava aqui.
Confiança Zé Pedro! Nas coisas de Deus! Estamos em maremoto, porém, para
um nada. É confuso tudo isto, certo?
- Oh! João,
graças a Deus! Não sabes o bem que me fizeste.
Pai João
mandou um recado para o Sinhozinho de Pai Zé Pedro e este arrumou toda a
situação ilegal, inclusive junto ao pequeno arraial de Abóboras.
Eufrásio
realmente ficou bom. Então tudo virou. Eufrásio queria procurar a família,
os seus e, tão impaciente estava que já se aborrecia por qualquer coisa e
por fim se apaixonou pela meiga Iracema. Então, em tudo colocava a
amargura. Não parecia mais aquele Eufrásio cheio de cuidados.
Certa noite,
a lua estava cheia, ninguém se preocupava com a fogueira. Pai Zé Pedro e
Pai João estavam fora, mais para longe da aldeia e começaram a fazer as
reparações.
- Eufrásio
(comentavam), como uma criatura podia modificar em tantos aspectos, em tão
vil procedimento?
- É possível
João, alguém regredir tão depressa?
- Sim Zé
Pedro, naquela noite trágica, muita experiência Deus nos deu à luz do
saber. E eis o que sei dos meus contatos com Vô Agripino: - Eufrásio foi
somente um instrumento de nossa evolução – e disse mais: que eu nunca me
iludisse com o seu comportamento e nem tampouco com a sua evolução.
Sim, tudo
era compreensível, porque o homem não se evolui em tão pouco tempo.
- Oh! Meu
Deus! Começo a compreender o que estamos passando.
Nisso chega
Eufrásio.
- Pai João,
vou-me embora, não estou suportando mais esta vida! Vou sair, vou procurar
emprego onde chegar. Darei notícias e jamais irei me esquecer de todos
aqui, e muito menos de vocês dois.
Olhando, Pai
Zé Pedro, que espantado não dissera uma só palavra, perguntou: - Quando
desejas partir?
- Agora
(respondeu Eufrásio) e sem muitas despedidas. E foi embora, montado na
mula do finado.
Pai João,
Pai Zé Pedro e alguns Nagôs que já haviam se juntado ali, estavam
perplexos. Ninguém, ninguém deu uma só palavra. Subiram até a aldeia sem
comentários e com toda mágoa no coração se sentaram junto à fogueira.
Jurema virando-se para Zé Pedro, disse:
- Tenho pena
de Vosmecês, e assim dizendo foi incorporando.
- Salve
Deus! (era Vô Agripino) Meus filhos! Eufrásio foi embora, cumpriu seu
tempo com vocês, não se preocupem que ele não irá muito longe. Fez grandes
dívidas nestes arredores. Pagou sua dívida com Janaína e vai se encontrar
com sua família aí nas Abóboras. E vocês, João e Zé Pedro, se preparem que
virá uma ordem para vocês partirem daqui.
- Nas
Abóboras? Sua família aí tão pertinho? (perguntou Pai João).
- Sim!
Porém, ele saiu daqui sem saber (continuou Vô Agripino) Sim! Vocês vão
partir daqui, partir para bem longe. Jurema, Janaína, Iracema, Jandaia,
Juremá, Janara, Iramar, Jazaíra e Jaiza precisam se casar. Esta aldeia já
não tem mais energia para vocês.
- Sim!
Energia Transcendental, Herança que se encaminha na Lei do Auxílio.
Pai Zé Pedro
e alguns Nagôs estavam ainda decepcionados, mal ouviam o que o Vô dizia.
Terminou a
sessão e todos tristes, foram dormir.
Sim, nesta
época já viviam ali naquela Aldeia 108 personagens. Era uma família que
com a saída de Eufrásio, ficou bem mais unida. Só Deus agora daria o
destino daquela gente.
Em volta da
fogueira todos “murchos”; o coração de Pai João doía... Reagindo,
voltou-se para os demais dizendo:
- Meus
filhos, o homem não vive com o coração dilacerado pela desilusão. Não
fiquem assim compungidos pela falta de Eufrásio.
Alguns
comentaram – Eufrásio era tão bom, nos dava tantos conselhos, nos
orientava em tudo...
Pai João
começou a pensar: Quando o homem se esquece das faltas do outro é porque
está se evoluindo. Ali naquele caso, todos só lembravam de Eufrásio na sua
boa fase. Sim, Iracema, a crioulinha mais indefesa, e a quem mais fez
sofrer...
- Zé Pedro
(disse Pai João) Estes são realmente os velhos Reis e Imperadores.
- Por quê
João, afirmas com tanta euforia?
- Zé Pedro,
o homem que viveu em encarnação superior, digo, de procedência refinada,
não perde a confiança em si mesmo. Sempre estão a lhe passar o Espírito
de Justiça e não se envolvem em mesquinharias. Somos 108, sabe?
- Sim, foram
todos Reis e Rainhas, e todos viverão muito tempo conosco.
- Deveras
(disse Pai Zé Pedro) – Eles só se lembram de Eufrásio, de Eufrásio em suas
boas ações e de seu martírio na cama.
Continuavam
perto da fogueira. Jurema fazia previsões. Chegando a vez de Iracema ela
disse:
- Iracema,
você voltará para ser a esposa de Petrúcio. Sim, seguirá para muito longe.
Iracema e Iramar atravessarão o Espaço para receber a missão e depois
voltarão esposas do mesmo Imperador.
- Eu?
(espantou-se Iracema), esposa do Imperador?
- Sim!
(continuou Jurema) Cujo Imperador será Eufrásio, que neste instante já se
prepara para partir no rumo de sua missão.
Deveras, foi
horrível aquela noite. Frustramento, sonhos pesados, porém ninguém ousava
dizer nada, até que Pai João quebrou o silêncio.
- Sim!
(disse Jurema) Uma morrerá e Iramar se casará por último e, depois todos
nós partiremos de lá para outro lugar aqui perto...
A vida
continuava. Logo se acostumaram com a saída de Eufrásio. Reinava agora um
suspense. Sempre sustos, reparações Doutrinárias, uma harmonia quase que
de medo. Certo dia Pai João se juntou na fogueira e começou a falar:
- Vejam meus
filhos, como a lei segura o homem. Vê-se assim, como o homem pode ser
punido pelas próprias leis que estabelece, sem se desviar deles. São as
leis feitas pelos homens, que punem. Os Poderes Superiores podem proteger
o homem das forças negativas que causam doença e sofrimento, porém, o
pedido de proteção, segurança contida de paz, harmonia do nosso todo, isso
é possível somente na Lei do Auxílio. Fazendo a caridade é que abatemos na
Lei do nosso carma. O sofrimento de hoje é a luz do amanhã.
Individualizamos a vida e, no entanto, somos guiados por Deus. Há muitos
séculos o homem tentou criar e fez a força cega em si mesma, dirigida pelo
Chefe das Almas...
Pai Zé Pedro
ouvia atento as palavras de Pai João, e remoia em seu canto a falta, a
transformação de Eufrásio.
- João, o
quê é Deus? Não é dado ao homem conhecer Deus, que por si mesmo deve
compreender? Sabemos que um homem está com Deus pelo seu procedimento. Por
que regride o homem? Eufrásio estava em Deus, como pode cair tão de
repente?
- Sim Zé
Pedro, cuidado com a tua forma de pensar, vancê é um Nego Velho pro
chicote e não para julgar com tanta convicção.
Os dois
começaram a rir e João disse com Amor:
- Sim Zé
Pedro, ouça bem o que diz Vô Agripino: Deus é absolutamente Fé, é
absolutamente Razão. E ser a Razão é ser a ciência. Eufrásio não estava em
Deus, Deus tentava penetrar apenas em seu coração, como tocou ao vosso
naquela noite.
- Como?
(pergunta Zé Pedro).
- Assumindo
com Eufrásio os seus desatinos! Afirmou Pai João.
- Então tudo
foi perdido? (indagou Zé Pedro).
- Não Zé
Pedro, nada se perdeu, muito pelo contrário, Eufrásio saiu para cumprir
seu destino. Deus não lhe daria o perdão de suas faltas por aquele curto
tempo em que esteve paralítico aqui na cabana. Espancou muitos homens, foi
o pivô da noite trágica. Quantas mortes em seu nome? Tudo o que aconteceu
foi à bem do seu Espírito, não se esqueça do que disse o Caboclo Pena
Branca: Breve, muito breve, iremos nos encontrar. Salve Deus!
- João, na
verdade o homem não tem capacidade de julgar o outro.
Os dois
começaram a sorrir, achando graça daquelas coisas que falaram e que tanto
lhes fizera bem. Tudo vinha de Vô Agripino a Pai João.
Felizes,
felizes estavam agora. Recordavam de sua vida passada, o porquê daquela
escravidão.
A felicidade
porém durou pouco. Como por encanto um temporal, como um furacão, ameaçava
aquela aldeia – o mar crescia, as árvores chegavam suas copas no chão. Pai
Zé Pedro e Pai João juntavam a todos e em súplicas olhavam o céu. As
palavras de Vô Agripino, eram agora o leme daquele povo: “CORAGEM!
FIRMEZA! A FÉ, O AMOR, SÓ EM DEUS!...”.
Quando a voz
do Índio Estrangeiro, como uma melodia de paz se fez ouvir: É A HORA DE
POMPÉIA! Foi a Voz Direta.
Todos ouviam
e viam seus Olhos Verdes incomparáveis, iluminando naquela escuridão. Logo
todos estavam juntos.
Oh! Meu
Deus! Em que Plano? Em que Dimensão? Foram todos ou ficou alguém, alguns
daqueles pobres Missionários?
Meu filho
Jaguar: Nós veremos na próxima semana um outro capítulo, porque Rafael,
Jorge, Vildinha, Soares e Izaura precisam de mim, e eu, sua Mãe em Cristo,
vou atendê-los.
Sua Mãe em
Cristo.
Tia Neiva.
Vale do
Amanhecer-DF, 16 de maio de 1980.
Capítulo VII
Salve Deus!
Meu filho:
Vamos voltar
à Cachoeira do Jaguar. Vamos mais uma vez sentir a realização daquele
Povo, os nossos antepassados.
É filhos,
quem diria que aquela filosofia de Pai João e Pai Zé Pedro partisse
daqueles Nagôs? Sim filhos, é preciso que conheçam a vida fora da matéria,
sabendo que vivemos na Terra a experiência de que somos testados pelos
nossos amores, e pesados pelos nossos corações.
Vivemos
neste Globo Terrestre onde analisamos a um ovo; a vida atmosférica que não
nos dá a mínima condição de viver sem dispensar as normas reais da vida. E
assim, como ocorre na Terra, muito mais é no espaço, onde o poder do
Pensamento Criador é incomparavelmente maior.
Depois de
atravessar uma pequena clareira, vamos encontrar os nossos queridos Pai Zé
Pedro e Pai João no verdadeiro caminho que nos une à Eternidade.
Tudo era
movimento, no dia que Pai João e Pai Zé Pedro foram chamados para o Sono
Cultural.
Salve Deus!
Pai João e
Pai Zé Pedro se preparavam para o anfiteatro. Suas cabeças não haviam
despertado daquele triste crepúsculo na Terra, na Cachoeira do Jaguar.
Sentados em frente de uma grande tela, que nos Planos Espirituais do Canal
Vermelho é como um cinema; aparece tudo que queremos saber de nossa vida
na Terra. Pai João e Pai Zé Pedro viam com paixão tudo que lhes era tão
caro; aqui e ali os dois comentavam:
- Todos,
todos estavam ali conosco.
- Sim!
(dizia um ao outro) Viam tudo...
Nisso
ouviu-se um soluço, era Efigênia que soluçava por não poder mais voltar a
Terra, pois o seu crânio ainda merecia cuidado.
Nisto
ouviram também alguém que chegava:
- Oh!
Quantas saudades... falaram muito, tudo o que se passou, como se tivessem
perdidos de vista. Depois Pai João perguntou:
- Por quê
Efigênia não pode voltar a Terra?
- João
(falava Vô Agripino): As forças biogênicas são transmutações das Forças
Cósmicas. A função da matéria é organizada pelo sistema do Corpo Etérico.
O corpo é sempre um e o mesmo tem sua origem na matéria orgânica,
metamorfose da Matéria Cósmica. As funções são muitas e várias. Têm sua
origem nos fenômenos vitais, que é criado pela matéria inorgânica que
forma o corpo bruto, inerte, sem atividade própria. Efigênia naturalmente
não está preparada para tanto. Ouviu-se um estrondo... O quadro se
modificou.
Vô Agripino
sorrindo disse: - Vou lhes dar uma rica surpresa.
- Ah! Lá
estão todos que irão voltar...
- Onde
estamos? (perguntou Pai Zé Pedro).
- Na Mansão
dos Jaguares – E quem você está procurando Zé Pedro?
- Eufrásio!
- Ah! Sim,
(disse Pai João) Eufrásio ainda não chegou.
Perguntaram
quanto tempo já se encontravam ali. Cinco anos e no entanto estavam todos
ali. Sim, pensava Pai Zé Pedro: No Universo não há inércia. O movimento é
incessante. A atividade é essencialmente produtora e as forças não param.
Se ficarmos parados ela se vai e ficamos sós. Sim, repetia ele, o homem é
portanto o Microcosmo, matéria e força, corpo e funções; o corpo físico
não gera a vida ou a força promotora dos movimentos, mas absorve-os. O
organismo é um reservatório universal, é assim o instrumento da vida,
aparelho que varia do infinito, aos pesados contatos da Terra que
alimentam as células vegetais...
Sim, a
experiência foi muito brusca, muito fatal. Pai João e Pai Zé Pedro não
sabiam, nem mais nem menos o que estavam fazendo. Levados pelos arrolhos
dos tumultos, arrastavam em suas mentes aquele crepúsculo final. Sim.
Perguntavam-se sempre: Porquê uma dor tão grande? Verdade! Lembravam-se na
Cachoeira... Os dois presos, soterrados da cintura para baixo, sem poder
socorrer os demais, até que outra avalanche os levasse para o fim.
Sim,
pensavam, ficamos presos por castigo de Deus? Perguntavam sempre. Ficamos
presos por reparação... castigo?... Eram as dúvidas e os conflitos
daqueles dois. Porque suas cabeças não sabiam analisar, os dois presos
para assistir toda a catástrofe. Sua revolta já estava levando-os a
descambar para “Ponta Negra”.
Verdade,
amamos na Terra e no entanto sofremos tanto! – Cadê o Vô Agripino? – Ficou
com as crioulas e os Nagôs? – Porquê saímos de perto deles?
Porque
nossas mentes têm que se encontrar por si mesmas e não vê Zé Pedro, aquele
bendito arrolho nos jogou para aqui sem que nós sentíssemos?
Nisto
ouviram um grito que penetrava diretamente em seus ouvidos: - Tibério, eu
sou e serei o teu Cônsul fiel, tenho prisioneiros: Marcus Cláudio e
Vinícius os teus traidores. Os dois homens soterrados naquele imenso
pântano. Saiam chispas de fogo pelos olhos. Pai João e Pai Zé Pedro se
olhavam sem nada poder dizer. Porém, o homem continuava sua obra. – Marcus
Vinícius, o traidor!
- Sim,
diziam os nossos queridos, não temos dúvidas, o quadro era idêntico,
somente o ódio daquela gente era o oposto da Cachoeira do Jaguar.
Quando se
deram conta de si, estavam na Indumentária de Tibério (Pai João) e Marcus
Vinícius (Pai Zé Pedro). Os Espíritos do triste comício agora gritavam com
mais intensidade, foi na deposição de Gália, lembrou-se Pai João.
- Oh! Meu
Deus, porque estamos aqui?
- É a
misericórdia de Deus. Sim, não acreditamos nem mesmo em Vô Agripino, e
olhando para suas novas vestimentas, Pai Zé Pedro gritou: Fujamos daqui
antes de sermos vistos nestas Indumentárias! Vamos daqui! Nisto ouviu-se
um assovio e um grupo de Cavaleiros surgiu, se espalhando por todo aquele
pântano, ficando somente um Luminoso, que se aproximou dos nossos queridos
e num tom de crítica prestou homenagem aos dois, que ainda vestiam as
Indumentárias. Pai João e Pai Zé Pedro sentindo a maior humilhação
disseram:
- Viemos
recentemente da Terra.
- Estou
vendo, porém nem tão recente. Sei que sofreram muito nesta jornada a ponto
de perderem a sua Individualidade. Esqueceram-se do Amor de Deus,
cumpriram com Amor e Dignidade a Missão na Terra; no entanto aqui, depois
de cinco anos, estão para cair apenas por não terem encontrado a razão do
seu crepúsculo. Egoísmo, o egoísmo poderá arrastar tão grandes e nobres
Missionários?
- Porque
estamos assim? (perguntou Pai João) Vestidos assim?
- A falta de
segurança e de Amor a Deus.
- Nos
culpamos por ter ficado presos, vendo toda a tragédia sem poder nos
movimentar, vendo todos perecerem. Tememos que fosse uma reparação e no
entanto não sabemos onde ficou o erro.
- Pelo que
sei Vovô Agripino os orientava dando-lhes lindas lições.
Nisto gritou
Zé Pedro: João, João Nagô! Tire depressa de sua mente esta roupagem. Os
dois começaram a rir e abraçados, tudo se modificou. Agora olhavam para o
Vale Negro. Lá embaixo tudo já estava diferente, os Centuriões já os
haviam levado em suas Redes Magnéticas.
- Oh! Meu
Deus! Como nos martirizamos. – Sim Zé Pedro, talvez queríamos ser
recebidos com festa.
Pai Zé Pedro
e Pai João sentaram-se na primeira Pracinha e tristes começaram suas
queixas: - O que será de nós? Temos que receber uma Missão e ficar juntos
outra vez.
Sim meus
filhos, agora eles se recordavam mesmo de tudo...
Quando
estavam falando chegaram as sete Crioulas e tudo foi festa. Jurema já
parecia uma Princesa.
- Onde
andavam meus queridos irmãos? Sabemos que estavam juntos, dizia com graça,
daqui onde estamos avistamos tudo, até mesmo “Ponta Negra” e o “Vale
Negro”.
Quando
Jurema terminou, Pai Zé Pedro disse baixinho: - Te viram na encarnação do
Imperador Tibério César.
- E você
Marcus Vinícius.
- Sim (disse
Jurema) Salve Deus! É natural que façamos estas reparações. É difícil
entender, estivemos ali e tudo foi como se Deus nos quisesse testar.
- Sim, já
entendemos tudo, Tibério enterrava os seus prisioneiros até a cintura e
deixava que os bichos os comessem ainda vivos, no entanto não nos deixou
vivos por muito tempo.
Nisto uma
pequena luz aparecia ao longe.
- Olha!
Disse Jurema. Olha Zé Pedro! Jerônimo soube que os senhores estão aqui e
vem lhes ver.
Pai João e
Pai Zé Pedro se olharam, sim, como Jerônimo?...
- Oh! Zé
Pedro e João! Disse Jerônimo todo feliz. Vim buscar os senhores para a
nova Mansão dos Jaguares.
- Jerônimo,
meu Jerônimo, como pode tanta compreensão?
- Sim, disse
Jerônimo, tenho a cabeça e o coração bem menores que o dos senhores, por
conseguinte, a missão foi menor também.
- É verdade,
tudo vem de um Plano de Deus. Sim! Remataram...
Ouviu-se um
estrondo, eles já estavam perto da Mansão dos Jaguares. Jerônimo mostrava
tudo por onde passavam. Sim, Jerônimo já estava ali há sete anos e sempre
foi um Espírito conformado. Por último, vendo a admiração de Pai João e
Pai Zé Pedro, disse: - Sabe meus queridos Mestres, tenho tudo que me
ensinaram na minha cabeça, só Deus poderá lhes pagar.
- A nossa
Doutrina não chegou para nós: Vê que já estávamos descambando para “Ponta
Negra”.
Nisto
ouviram vozes: Eram Antera, Zefa, Lívia, Emerenciana, Maria Conga, Sabina
e Cambina, e junto os Nagôs, só faltava Eufrásio. Foram abraços e
comentários como se estivessem chegando de uma grande viagem.
Pai João se
ligou a Antera e quando viram já estavam com uma nova roupagem.
- Por Deus
não te reconheceria, se tu também não estivesse junto com os outros.
Todos
entraram e os dois foram para uma Pracinha recordar as suas façanhas na
Terra. Foi um tempo bonito, todos se conheceram em casais, saíam e com
saudades esperavam o Amor de Deus.
Já era hora
da prece... “do Canto Universal”. Saíram dali e foram ao “Campo de Morsas”
vibrar para os que ainda estavam na Terra.
- Como?
Perguntou Pai João.
- Sim, no
“Campo de Morsas” vibram os que ainda têm os seus familiares na Terra.
- Tens
alguém, Zé Pedro?
Este
surpreso respondeu – Tenho... tenho o meu Sinhozinho e minha Sinhazinha.
- E eu
(disse Janaína), vou devolver-lhes as rezas que fizeram pensando que eu
estivesse morta.
- Onde estão
os teus familiares Janaína? Perguntou Jerônimo.
- Na Europa,
respondeu.
- Se é na
Europa, é logo ali...
Todos
sorriram, vendo a verdadeira família.
Nisto o
jovem Tomáz, que se vestia como um belo Fidalgo Grego, foi se juntar a
Janaína.
- Tomáz!
Gritou Pai João meio ressabiado. Tomáz, meu querido Tomáz! Como sofremos
por tua partida.
- Sim, pelo
que sei, e partiremos em breve.
- Oh! Meu
Deus! Disse Jurema que estava ao lado de Japuacy, também na roupagem de
cidadão romano.
Verdade, até
parece conto de fadas; todos com seus amores chegaram ao grande e luminoso
“Campo de Morsas”. Todos estavam em suas afirmações sentindo aquela força
em perfume que exala dos Mundos Espirituais de Deus. As energias iam e
vinham como laços de fitas. Pai João e Pai Zé Pedro sorriam e choravam,
vendo aquela maravilha que jamais pensaram existir. Risos e luzes. De
repente começou o sermão. A Voz Direta que também era maravilhoso.
- Salve
Deus! Quem está falando? Quem fala em nós como se nos conhecesse?
- São as
Vozes dos Ministros que nos preparam para voltar a Terra.
- Como
poderemos partir com todos os nossos amores?
- Sim meu
filho, como será a despedida dos nossos queridos? Veremos no próximo
capítulo.
Com carinho.
A Mãe em
Cristo...
Tia Neiva
Obs: Sempre solicitada em muitas sintonias, a
Clarividente não prosseguiu com a história. Salve Deus!
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